4.24.2011
Engraçado como todos os grandes feriados, aqui dou-me a licença de generalizar e correr o risco de ser injusta, perderam o foco. Mais uma prova de como a sociedade vem perdendo o foco do que realmente tem importância.

Quantas pessoas sabem o que significa Páscoa? Paixão de Cristo, Morte de Jesus? Nada a ver, pequena criança! A Páscoa é muito mais antiga que isso! E qual a importância de compartilhar isso? Acho que nenhuma, porém quis compartilhar. Gosto de compartilhar pérolas da sabedoria inútil.

Esse ano aqui no Brasil, além de Páscoa e Paixão de Cristo, tivemos a comemoração da morte de Tiradentes na mesma época - o que criou um monstro de quatro braços chamado feriado prolongado. Também acho engraçado como a imagem que temos de Tiradentes é aquela dos livros de história, de um quase Cristo sendo sacrificado por uma causa nobre. Aquela imagem que eternizaram dele, o homem cabeludo e barbudo de túnica branca, também não tem nada a ver com a verdade.

Isso mostra o quão somos apegados a mentiras. Tão apegados que passamos a achar que elas são verdades. Temo muito o apego a uma mentira camuflada num fundo de verdade. Mais que uma mentira pura, as meias verdades são como folhas de papel sulfite: cortam perigosamente, mas ninguém as teme.

De repente o conhecimento dessas pequenas curiosidades da vida vai despertar uma grande curiosidade no coração de alguém e esse alguém irá buscar conhecer mais coisas. Comigo aconteceu assim, uma pequena verdade me fez querer conhecer outras maiores.

Quem sabe se as pessoas se preocuparem mais com saber o que significam realmente as coisas elas parem de achar que as coisas significam o que elas acham ou querem.


"You may say I'm a dreamer, but I'm not the only one."
4.19.2011
Eu poderia dizer que você é minha melhor amiga, mas nem sei se esse conceito tão usado se aplica ao nosso caso de amor.

Nos conhecemos da forma mais impessoal possível, pela internet. Essa mesma ferramenta que de tão mal utilizada resulta em relacionamentos fúteis e irreais. E, de todas as pessoas que conheci pela internet, você é a única que sem medo de errar eu posso dizer que é minha amiga.

Sou amiga de muitas pessoas na internet, mas tenho consciência que a maioria delas não é - nem nunca será - minha amiga de verdade. Não acho que seja uma falta de caráter das pessoas que conheço, mas sim uma falta de oportunidade mesmo. De repente eu não dei a elas as mesmas chances de serem minhas amigas como dei a você. De repente elas não se mostraram receptivas como você. De repente foram ambas as coisas. E de repente, não mais que de repente nós nascemos uma dentro da outra.

Eu poderia listar suas qualidades aqui, mas a verdade é que não sei se o que mais gosto em ti são tuas qualidades ou teus defeitos. Sei que o que me faz te amar são teus defeitos. Conhecer os teus defeitos me faz te amar muito! Porque só conhecemos os defeitos de quem está dentro da gente, e se esses defeitos não nos incomodam só pode ser amor.

Eu poderia vir aqui e dizer que amo você porque você é atenciosa, porque você é carinhosa, porque você é meiga de um jeito peculiar que poucos conseguem ver, porque eu me sinto à vontade para falar com você de coisas que nunca falei com outras pessoas, mas a verdade é que, mesmo você sendo assim, não é por isso que eu te amo.

Eu te amo porque você é venenosa, porque você causa o mal estar nas outras pessoas sem nem um pingo de remorso, porque você é procrastinadora e preguiçosa. Eu te amo porque você se mostrou para mim, e eu vi uma pessoa autêntica e completa; porque podemos ser sinceras uma com a outra, termos opiniões contrárias, e mesmo assim continuarmos nos amando.

Lud, eu te amo porque também conhecendo meus defeitos você me respeita e aceita.

Você sabe que mi casa es su casa y mi corazón, su corazón.



Tua,


Beca


"Isn't that a wonderful coincidence? It shows that we were meant for each other. Two hearts, beating as one..."
Neil Gaiman 
4.18.2011
Nasci homem há quarenta anos atrás.

Quando completei treze anos nasci novamente, dessa vez como mulher, e ainda assim demorei mais dezoito anos para me conhecer. Quando me vi como mulher pela primeira vez eu já tinha trinta e um anos, quase trinta e dois. Foi algo tão inusitado e especial que me apaixonei por mim.

Como mulher eu era tudo que eu sempre quis ser, mas naturalmente, não dessa forma mal encarada e reservada que eu sempre me obriguei a ser como homem. O susto de me ver assim, tão natural e ao mesmo tempo tão eu, foi tamanho que no dia seguinte procurei outra mulher com quem sair para distrair-me de mim mesmo. Beijei e abracei essa mulher, e despedi-me satisfeito.

No dia seguinte essa outra mulher colocou a culpa das atitudes que tomara no dia anterior no vinho que tinha bebido. Sei que se eu fosse ela, não ela a garota com quem eu saí, mas ela meu eu mulher que eu tinha conhecido no dia anterior, diria com toda a naturalidade do mundo "in vino veritas, amore", e com certeza não ofenderia, Porém, meu eu homem não sabe ser naturalmente sincero sem ser brusco. E minhas palavras deixaram essa outra com raiva, ela disse que aproveitei-me dela.

Foi bom, porque foi um adeus.

Então ela, meu eu mulher, procurou-me. Algumas mulheres já haviam me procurado antes, mas nunca fora tão espontâneo quanto ela.

Acho que era isso que fazia falta em minha vida, a espontaneidade dela. Resolvemos nos encontrar novamente, não a chamei para sair, concluímos juntos que iríamos nos encontrar novamente e nos encontramos. Assim, com a simplicidade que velhos amigos usufruem depois de anos de convivência.

Ela me disse que era manipuladora e fiquei encantado. Como um homem de trinta e um anos se encanta com uma mulher que assume ser manipuladora? Até hoje não sei. Talvez foi a sinceridade. Talvez foi o sorriso. Talvez foi sentir, mesmo sem saber conscientemente que, como eu estava lidando comigo mesmo, não havia o que temer.
 
Nesse dia ela me beijou. E eu nunca mais precisei beijar outra boca além da minha.
 

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